sexta-feira, março 26, 2010

Este é o mar...


























Este é o mar que me desfez
nos momentos de irreal lucidez
Torna-se necessário partir nas asas do vento
para a terra do devir
Aí pelo teu nome posso gritar
é aí que te posso amar
*Poema do livro Fragmentos do silêncio

© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes

segunda-feira, março 08, 2010

Deixa









Deixa-me avistar mais além mesmo que os olhos apenas vejam o chão
ficar com as ruas e as casas da cidade, ocupar a minha solidão
Deixa-me lobrigar horizontes ver oceanos e as estrelas do céu
ficar nesse vazio humano, ouvindo o silêncio, ser eu
Deixa-me o vento, todas as nuvens do céu que o mundo tem 
ficar com os pingos de chuva que não são de ninguém 
Deixa-me ver, mesmo sem olhar, os contornos da multidão
ficar com todas as mulheres que passam, doce ilusão
Deixa-me caminhar descalço pela areia da praia deserta
ficar absorto pelo que vejo, a mente desperta 
Deixa-me esta ânsia esfomeada pela luz interior, sonho sem sono
vá lá, deixa-me ficar, do mundo, com todas as coisas sem dono


© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes

sábado, março 06, 2010

O Poeta



Minha poesia é triste porque nascida
das reviravoltas da vida
dum doce amargo, dolorosa
arrebatada ao coração, espinhosa
Canto à ternura e aos afectos
ao silêncio e à solidão
canto alegrias e tristezas
de amigos e amantes
falando do meu amor 
por esses seres amigantes
A minha poesia triste
é carinho de verdade
hino aos que me rodeiam
antevisão da saudade
Nasce de um ser só, tantos amigos à mão
a alma adivinhando o fim
profunda antecipação
por isso é de enorme tristeza, não procurada
mas jamais se dirá
que é poesia desgraçada



© Foto: Armando Isaac; Poema: Fernando Antunes